Não é de hoje que o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-AM), Valdemir Santana, vem falando da liberação dos milhões de Reais das verbas da Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) do polo eletroeletrônico da Zona Franca de Manaus, do Distrito Industrial do Amazonas, para serem utilizadas em benefício dos trabalhadores e não dos próprios empresários.
Esse ano de 2020, segundo o presidente da CUT, as indústrias do Amazonas vão arrecadar em torno de R$ 450 a R$ 600 milhões de verbas de P&D, um dinheiro que pode aliviar o problema financeiro dos trabalhadores acarretado pela perda de empregos, salários e outros benefícios e remunerações, até que a crise do coronavírus passe.
Valdemir sugeriu que o Governo, Assembleia Legislativa do Estado, Suframa e as empresas criem o ‘Programa de Apoio à Renda Real dos Trabalhadores’, que vai destinar esses milhões de Reais aos próprios trabalhadores, que estão com dificuldades domésticas por causa da perda ou diminuição da renda familiar, no trabalho.
Cesta básica
Mas alerta: comprar cesta-básica não é a melhor solução. “O trabalhador não precisa unicamente de alimento, ele tem contas de água, luz, transportes, vestimentas, medicação e uma infinidade de despesas familiares que só a cesta básica não vai resolver” destaca.
O Amazonas tem hoje quase 250 mil trabalhadores desempregados. As pessoas que estão em casa não têm álcool, máscaras e nem dinheiro para comprar equipamentos de proteção. “O Estado, a Suframa, podem comprar e tentar amenizar o sofrimento de muitas famílias”, disse.
Comprando prédios
No mercado, uma garrafa de álcool vale 5 kg de arroz, 2 frangos, mas algumas empresas preferem comprar prédios, hotéis, equipamentos e criar institutos dentro de suas próprias dependências.
Início de 2018 o presidente da CUT apontou a compra milionária do hotel Caesar Business, na Zona Centro-sul de Manaus, que segundo a empresa Samsung da Amazônia, seria para abrigar o Instituto de Desenvolvimento para a Informática da Amazônia (Sidia), de sua propriedade.
De início, a Samsung gastou R$ 87 milhões na compra do prédio, mais demolição, reforma, mobiliário, a obra superou os R$ 250 Milhões, toda paga com dinheiro de P&D. Com um detalhe, o que é anunciado como instituto, tem formato e utilidade de hotel para os asiáticos donos da Samsung.
Transire
Da mesma forma, a Transire anuncia agora, depois de uma decisão judicial, que vai destinar R$ 25,9 milhões das verbas de P&D para serem utilizados na aquisição de materiais médicos-hospitalares e no combate ao coronavírus no Amazonas.
A Transire faturou 2 bilhões de reais em 2019 (dados da Suframa). Pelo qual, com os 5%, a empresa faturou R$ 100 milhões de P&D, em 2019. Esse ano, depois da decisão judicial, a Transire anuncia só os R$ 25,9 milhões de contribuição. “A previsão é que ela fature R$ 3 Bilhão em 2020”, prevê Valdemir.
É bom lembrar que todas as aproximadamente 125 empresas do eletroeletrônico do Distrito Industrial do Amazonas faturaram mais de R$ 90 Bilhões em 2019. Contando com os 5% destinados pela MP, elas arrecadaram algo em torno de R$ 450 Milhões de verbas de P&D que deveriam ser endereçadas ao aprimoramento dos trabalhadores. “Só que não existe uma prestação de conta aos sindicatos e, pelo que se sabe, nem aos órgãos federais”, sinaliza o sindicalista.
Finalidades
Independente da finalidade que os empresários queiram dar ao dinheiro, que não é da empresa, as verbas de P&D devem ser utilizadas para o treinamento e capacitação profissional dos trabalhadores do setor eletroeletrônico e ponto.
“Como atualmente a pandemia do coronavírus vem aumentando as necessidades de um número cada vez maior de famílias de trabalhadores, que as verbas de P&D retornem a eles em forma de complementação salarial e não caia de volta nas mãos das empresas, como está acontecendo agora”, finaliza Valdemir.
FONTE: CORREIO DA AMAZÔNIA